sábado, 21 de julho de 2012

Para quando se pisar o chão.

Antes de pisar esse chão , peça licença.
Peça desculpas, faça reverências.
Tira os teus sapatos brilhantes
E mostra,ao menos uma vez, a face imunda dos teus pés brancos e macios.
Só dessa vez abdica dos teus coloridos tênis, esquece o prateado e o dourado.
O vermelho sangue e o laranja coral.
Abdica, que honra não brilha,
É marrom de lama e malcheira, fede.

Pisa com cuidado e respeito
Essa terra que tu sempre esqueces o maiúsculo ao pronunciar.
Pisa com consciência
Supera tua demência que governa o teu agir, fazer, pensar.
E principalmente o esquecer.

Mas lembra que não pisas piso
Não pisas mármore, granizo.
Pisas lama, solo, chão

E onde pisas, pisa sangue
Suor e saliva
E corpos, mentes, meninas.
Meninos, mulheres, idosos.
Pisas gente, pisas história.

Não, não pisas sangue vermelho escorrido da bravura.
Pisas sangue batido arrancado na tortura,
Sangue preto, pútrido
Filho do momento exdrúxulo
Que se chama ditadura.

Não é sangue que leva a vida
É sangue que perdeu-se junto à vida
E que garante as gerações futuras.

Não é sangue de nutrientes
Plaquetas, plasma, hemáceas
Não é sangue de falácias,
É sangue de gente, que sangrou pra outra gente nascer.
Como o sangue da menarca, o primeiro sangramento
Pra nova vida surgir.

Foi esse sangue, retirado a penas duras,
Por uma ditadura,
Que vem sujo como de menarca,
Já preto pelo estado de decomposição,
Que eleva este lugar, o enobrece
E então o chamamos nação.

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