sábado, 4 de maio de 2013

Poema de amor de mão única.

Os melhores textos vêm da dor, dos amores não correspondidos. Porque eles vêm como um grito, com uma urgência. Gil disse que "a luz surge na escuridão". Também acho. É lá, no escuro e frio da alma que surge a poesia, esse filete incandescente de luz que jorra em palavras.


Vou sair dessa falta.
Me extirpar da sua ausência,
e te deixar na sua plenitude,
das cores vazias e verdades pessoais.
Tua liberdade- espiral,
que me suga, me expulsa,
me exulta como ser,
Com sua exuberância louca,
rôta, de brilho de prazo a vencer.

Vou retornar à minha lindeza desbotada,
voltar pra minha andança desvairada,
pros pés descalços,
no encalço de mais um coração.
Vou voltar aos meu sol, lua e estrelas,
aos meus sonhos e imaginação.
Às belezas da vida sonhada,
construída e idealizada em quarto de prisão,
regada a luxo e burguesia,
o chilique, em puberdade, a qualquer traço de não.
Vou voltar ao meu sim, à minha construção,
ao meu castelo de rebocos, minha alucinação.

Deixar a mocinha se afogar em seu mar de desatenção,
sua presença em abstenção.
Um sim em escândalo
Em disfarece de um não.

Contudo, mesmo depois desse poema de abdicação,
essa ode ao não,
de “ Vou lhe deixar, Vou me encontrar,
Vou seguir meu caminho e esquecer a tentação.”
O que vou mesmo é dar
Asas à minha paixão.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Deixa

"O homem sempre quer aquilo que não tem" ou mesmo " A grama do vizinho é sempre mais verde." Mas no fundo, acho que amores impossíveis se explicam por: " O que pode uma criatura, diante de outra criatura, senão amar?" Enfim, "Histórias de amor duram apenas 90 minutos" porque o amor é efêmero, é fugaz, escorre entre os dedos, ele vai. É necessário desistir, dizer adeus, dizer desculpa, largar o osso, assinar um mea-culpa. É necessário deixar. Deixo. Amei-a, meu choro e meu prazer, meu sonho e meu plano, meu sorriso e minha poesia. Agora deixo, até que o peito não aguente e exploda em amor.

Deixa

Deixa esse amor ir.
Deixa des-ser,
Deixar de ser.

Deixa ser o que for,
Como for.
Como não for.
Esse não amor,
nosso desamor.

Deixa a mocinha virar multidão.
Deixa chegar o não.
E todo seu império de pobreza.

Deixa vir sua tristeza,
Acompanhada da imensa beleza,
da impossibilidade.
Sua tristeza e mediocridade.

E deixa, assim,
o preto imperar.
A cortina preta que tudo sufoca,
tudo mata, esfola,
descortinar

meus sonhos e futuros,
suas cores e seus muros,
tua beleza inalcançável
e minha escrita irrefreável.

Deixa morrer,
Que tudo que nasce, morre
E agora beleza escorre
Do que foi o meu amar.

Deixa que amanhã é outro dia,
Que há de vir outra mocinha,
E que o sol, à revelia,
há de brilhar.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O que vier

Nós sabemos que vamos perder as pessoas que mais amamos, e vivemos como se não soubéssemos. Acho que é menos doloroso.

O texto abaixo tem relação com a frase de Drummond: " As coisas findas, mais que as lindas, essas ficarão.", frase que carrego como mantra.É dedicado a duas das pessoas que mais me foram importantes e que vivem em mim em todo ato ou pensamento, que se enraizaram no mais profundo do que sou e cujas presenças ainda habitarão este mundo por muitos anos. Amor pouco tem a ver com a verbalização: "eu te amo". Tem mais a ver com a ordinariedade do dia, com o não glamour, com as mãos sujas e o corpo suado. Outra frase que também me move bastante e que tem a ver com esse texto é uma de Manoel de Barros: " As flores dessas árvores depois nascerão mais perfumadas."

Por fim, a tudo que se foi, a tudo o que virá. Aos que amei, aos que vou amar. Evoé ao que a vida há de me dar, evoé ao futuro lindo que virá. Peço passagem e rendo homenagem:

O que vier
será lindo
será lindo
será?

O que vier
será lindo
será lindo
será!

O que vier
será lindo
será findo
e irá.

O que vier
será findo
será findo
e irá.

O que vier
será findo
será findo
findará.


Mas basta eu fechar os olhos
Que outra vez poderei te encontrar
E outra vez no teu ombro eu poderei recostar
E outra vez tua gaitada eu poderei escutar
E outra vez teu sorriso sorrirá sorrirá

lálálá...

sábado, 21 de julho de 2012

Para quando se pisar o chão.

Antes de pisar esse chão , peça licença.
Peça desculpas, faça reverências.
Tira os teus sapatos brilhantes
E mostra,ao menos uma vez, a face imunda dos teus pés brancos e macios.
Só dessa vez abdica dos teus coloridos tênis, esquece o prateado e o dourado.
O vermelho sangue e o laranja coral.
Abdica, que honra não brilha,
É marrom de lama e malcheira, fede.

Pisa com cuidado e respeito
Essa terra que tu sempre esqueces o maiúsculo ao pronunciar.
Pisa com consciência
Supera tua demência que governa o teu agir, fazer, pensar.
E principalmente o esquecer.

Mas lembra que não pisas piso
Não pisas mármore, granizo.
Pisas lama, solo, chão

E onde pisas, pisa sangue
Suor e saliva
E corpos, mentes, meninas.
Meninos, mulheres, idosos.
Pisas gente, pisas história.

Não, não pisas sangue vermelho escorrido da bravura.
Pisas sangue batido arrancado na tortura,
Sangue preto, pútrido
Filho do momento exdrúxulo
Que se chama ditadura.

Não é sangue que leva a vida
É sangue que perdeu-se junto à vida
E que garante as gerações futuras.

Não é sangue de nutrientes
Plaquetas, plasma, hemáceas
Não é sangue de falácias,
É sangue de gente, que sangrou pra outra gente nascer.
Como o sangue da menarca, o primeiro sangramento
Pra nova vida surgir.

Foi esse sangue, retirado a penas duras,
Por uma ditadura,
Que vem sujo como de menarca,
Já preto pelo estado de decomposição,
Que eleva este lugar, o enobrece
E então o chamamos nação.

domingo, 27 de maio de 2012

Não sei

Não sei que nada sei
Não sei
Sei nada
Sei de nada do ser
do saber, do achar ou do crer

“Só sei que nada sei” é pros sabidos.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Quanto ao tempo

Lembra que tempo é recurso finito não-renovável.
Não brota
ou renasce
ou revive,
é fugaz.
*
Lembra que tempo é senhor
Da corredeira da vida.
E o que vai,
Já foi.
E foi-se,
Adeus.
*
E como disse a poeta,
“ Faz a gente, faz da gente e se desfaz.
Ele enrola e desenrola.
Dá gorjeta e pede esmola.”
Enche a sacola do perdão
e do pecado.
Pondo-os lado a lado
até a batida final.
*
Apaga os vestígios.
E não deixa resquícios,
muito menos prestígios,
de vida qualquer.
*
Lembra que o tempo faz nascer e morrer.
E nos faz fazer
do tempo o que for
Fazer dinheiro, fazer amor.
Sentir poesia, sentir rancor.
Escolher o que melhor for,
o caminho de menos dor.
*
E se depois do tempo passar,
e só a tristeza sobrar,
o tempo não vai lamentar,
lamento,
que escolhestes gastar
assim o teu tempo.
*
E não haverá mais dor.
Ou choro,
ou arrependimento.
Porque agora,
e novamente lamento,
já não haverá mais tempo.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Porque Amores só amam


Tudo bem, a mão lhe ia escapando das mãos pouco a pouco, mas não há problema.
Amores vêm e vão, em vão, porque vêm de novo.
E o seu ia. Ia, ia, ia
Cada maldita palavra mal dita afastava a menina alguns metros.
E outras palavras, ainda malditas, mas bem ditas por outra boca,
a levavam ainda mais depressa.

O rapaz não ligava.
Que amores vêm e vão, ele cria.
Em  vão, a vida lhe mostraria.
Tudo bem, não há problemas, mas amores.
Amores só amam.
E o dele só amou.
Outro.