domingo, 27 de maio de 2012

Não sei

Não sei que nada sei
Não sei
Sei nada
Sei de nada do ser
do saber, do achar ou do crer

“Só sei que nada sei” é pros sabidos.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Quanto ao tempo

Lembra que tempo é recurso finito não-renovável.
Não brota
ou renasce
ou revive,
é fugaz.
*
Lembra que tempo é senhor
Da corredeira da vida.
E o que vai,
Já foi.
E foi-se,
Adeus.
*
E como disse a poeta,
“ Faz a gente, faz da gente e se desfaz.
Ele enrola e desenrola.
Dá gorjeta e pede esmola.”
Enche a sacola do perdão
e do pecado.
Pondo-os lado a lado
até a batida final.
*
Apaga os vestígios.
E não deixa resquícios,
muito menos prestígios,
de vida qualquer.
*
Lembra que o tempo faz nascer e morrer.
E nos faz fazer
do tempo o que for
Fazer dinheiro, fazer amor.
Sentir poesia, sentir rancor.
Escolher o que melhor for,
o caminho de menos dor.
*
E se depois do tempo passar,
e só a tristeza sobrar,
o tempo não vai lamentar,
lamento,
que escolhestes gastar
assim o teu tempo.
*
E não haverá mais dor.
Ou choro,
ou arrependimento.
Porque agora,
e novamente lamento,
já não haverá mais tempo.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Porque Amores só amam


Tudo bem, a mão lhe ia escapando das mãos pouco a pouco, mas não há problema.
Amores vêm e vão, em vão, porque vêm de novo.
E o seu ia. Ia, ia, ia
Cada maldita palavra mal dita afastava a menina alguns metros.
E outras palavras, ainda malditas, mas bem ditas por outra boca,
a levavam ainda mais depressa.

O rapaz não ligava.
Que amores vêm e vão, ele cria.
Em  vão, a vida lhe mostraria.
Tudo bem, não há problemas, mas amores.
Amores só amam.
E o dele só amou.
Outro.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Mortes.

A morte lhe chegou. Na verdade, a morte o morreu que morte não ama, mata ou conjuga qualquer outro verbo senão morrer, mas o autor é poeta e sabem como são os poetas, escrevem mais do que devem.
Na praia que estava, afogado morreu. O oceano de um lado, à esquerda. À direita, a via movimentada e seus jovens correndo na avidez da idade. E egos. Mil egos, egos mil.
Acho que não sentiu dor, acho que só o coração parou. Nem isso, acho que morreu com o coração batendo que este não tinha o direito de parar. Se pudesse argumentar, o faria. Diria que não tinha tempo para morrer, que havia ainda muitos contratos a assinar e petições e reuniões e o inventário e aquela cartilha de investimentos e aquele relatório, enfim, precisaria de algo em torno de uma semana para organizar tudo. Mas não argumentou, que morte não argumenta, não faz interlocução. Morte apenas morre.
Acho que a morte o morreu por pena. O homem, no mar que estava, só tinha a cabeça para fora - ou era esta a mais imersa - e nadava desesperadamente. Às vezes para baixo, se afundando mais como a se entregar. Noutras, para cima, como a tentar sobreviver, mas emergia para buscar poesia onde, eu lamento, não havia.
Afogando-se que estava, a morte o morreu por dó, para que não penasse mais.(Embora morte só seja morte e morra, acho que teve pena do pobre rapaz e isso foge completamente à conjugação dos verbos.) Lamento, mas os muitos contratos a assinar e petições e reuniçoes e o inventário e aquela cartilha de investimentos e aquele relatório ficaram. Todos. Em suas gavetas, seus armários, na mesa do escritório. Ficaram. E ele, também. Ali, estendido na areia, como tentando penetrar nesta. Rosto na areia, costas à lua.
Morrera afogado de realidade. E suas narinas buscavam, e desesperadamente, algo que o homem nem conhecia: poesia.
*
E ali perto, menos de 20 metros, eu acredito, outra morte: Jovem rapaz andava tranquilamente com as vistas ao céu, ainda nublado. As nuvens, sua meninice feita de algodão, se abriram num repente: eram sorriso. A lua, cheia em seu brilho de brancura falhada, não teve pena, que lua apenas ilumina: iluminou. O rapaz não aguentou, era muita luz. Embriagou-se. Afogou-se. Morreu.